Passou já uma semana desde que saí do estúdio. Foram dias cheios de canções cruzados com a maratona que é tocar muitos instrumentos, sempre a somar os efeitos físicos secundários de tocar bateria furiosamente e baixo sem palheta. Dores, calos e inchaços, tudo se contabilizou. Encaro estas gravações como a primeira abordagem ao novo disco, ainda com um caminho por fazer, muitas paisagens por decidir. Desde que saí daquelas quatro paredes, a bola de neve começou a descer a montanha com relativa velocidade e muitas novidades vão surgir nos próximos tempos. Coleccionam-se ideias e projectam-se impossibilidades, as utopias próprias da profissão. Sinto sempre uma certa transformação a ter lugar, um corpo dá lugar a outro, uma ideia que solidifica e que, lentamente, se apodera do espaço à minha frente.

Nunca escolhi esta profissão. Sempre achei que foi a profissão que me escolheu a mim, apanhou-me quando andava à deriva e levou-me no navio. No entanto, todos os dias aprendo mais sobre ela e sobre esta forma de expressão, percebo melhor o mundo, as pessoas, os lugares. Não sei onde me leva o navio, mas tem sido uma viagem extraordinária e invulgar.

O próximo porto segue dentro de momentos.