No final dos anos 80 e inícios dos anos 90, a música não circulava por todo o lado, muito menos por Leiria. Não havia internet, não víamos a MTV. Os concertos eram escassos e o mainstream musical tomava conta de quase tudo. Passavam-se cassetes gravadas de mão em mão, limpavam-se agulhas e vinis. Os nomes das bandas mais interessantes eram passadas de boca-em-boca, não sabíamos como eram as suas caras ou as suas idades. Vi uma foto dos Pixies apenas 2 anos depois de ouvi-los.
No meio de tudo isto, existia o António e o seu "Som da Frente". Um canal directo para um outro mundo longe do nosso, um sítio onde a música falava sempre mais alto do que tudo o resto. Acertávamos os dias (e as noites) para estar com ele na sua viagem de descobertas, partilhando o deslumbre pela novidade, pelo risco, pelos sons nunca antes ouvidos, universos longínquos e fabulosos. À mesma hora, no mesmo sítio, um clube secreto conhecido por todos.
Anos mais tarde, tive a honra de ser convidado a estar no seu programa na Rádio Comercial. Eu e o Ricardo Fiel tocámos dois temas ao vivo ao lado do Mestre, um momento absolutamente único para quem partilhou tantas noites com a sua música. Saímos dos estúdios com uma excitação adolescente, tínhamos conhecido o homem cuja voz nos tinha guiado por tantas vezes para fora da nossa realidade musical.
António Sérgio, obrigado e até sempre.